Cetoacidose diabética
Introdução
Definição
A cetoacidose diabética é a complicação mais comum da diabetes mellitus, apresenta grande potencial de ocasionar óbito tendo taxa de mortalidade variando de 17 a 50% e necessita de intervenção terapêutica e monitoramento intensivos.
A cetoacidose diabética ocorre devido à produção excessiva de corpos cetônicos originados da degradação do tecido adiposo e caracteriza-se pela tríade bioquímica de hiperglicemia, hipercetonemia e acidose metabólica.
Hiperglicemia:
A hiperglicemia é o aumento da glicose na circulação sanguínea.
Hipercetonemia:
A hipercetonemia é a elevação de ácidos graxos na circulação sanguínea.
Acidose metabólica:
A acidose metabólica está associada à deterioração metabólica severa.
Em quanto tempo a cetoacidose diabética se instala no paciente?
O tempo necessário para o paciente desenvolver a cetoacidose diabética é imprevisível, podendo variar de alguns dias há alguns meses.
Há um estudo científico relatando que a cetonemia se desenvolve em 12 dias e a cetoacidose se desenvolve em 16 dias após a rápida diminuição da concentração da insulina sérica ou da diminuição da ação da insulina.
Fisiopatologia
Glicose
A glicose é a principal fonte de energia, na forma de adenonisa trifosfato (ATP), para todas as células do corpo, exceto para as células cardíacas e do músculo esquelético, que utilizam tanto a glicose quanto os ácidos graxos livres como fonte de energia.
A concentração de glicose no sangue é um reflexo da:
Absorção de carboidrato, proteína e gordura pelo trato gastrointestinal.
Produção de glicose pela lipólise, pela glicogenólise nos adipócitos, músculo e fígado.
Produção de glicose pela gliconeogênese:
A gliconeogênese, que é realizada no fígado, é a produção de glicose a partir de substâncias que não glucídicas como lipídeo e proteína.
Insulina
Euglicemia:
A insulina é o hormônio responsável pela manutenção da euglicemia, promovendo a translocação de glicose do sangue para as células. A glicemia é o principal fator para produção e liberação da insulina.
As células do fígado, células adiposas e células musculares são os três principais órgãos da ação de insulina.
O cérebro, fígado, neurônios, rins, placenta, adipócitos, espermas, células endoteliais, eritrócitos e células-betas pancreática são independentes de insulina.
Translocamento de diversas substâncias:
A insulina também tem a função de aumentar a translocação de alguns aminoácidos e ácidos graxos, e íons potássio e magnésio através da membrana plasmática das células-alvo.
Deficiência parcial ou total de insulina com resistência insulínica:
Todos os cães e gatos com e cetoacidose diabética apresentam deficiência parcial ou total de insulina ou apresentam resistência insulínica devido ao aumento de hormônios diabetogênicos hiperglicemiantes como a adrenalina, noradrenalina, cortisol, glucagon, progesterona e hormônio de crescimento (GH), por exemplo, e de um meio metabólico alterado como ácidos graxos livres elevados e a acidose metabólica, por exemplo.
Os pacientes com diabetes mellitus e cetoacidose diabética apresentam hiperglicemia devido ao uso inadequado de glicose pelos tecidos devido à deficiência parcial ou total de insulina ou pela resistência insulínica e pela elevação da glicogenólise e da gliconeogênese.
Aumento sérico dos hormônios diabetogênicos
O organismo aumenta a quantidade de hormônios diabetogênicos circulantes devido à ampla variedade de distúrbios concomitantes infecciosos e inflamatórios como pancreatite e/ou gastroenterite, por exemplo.
Raramente os pacientes com cetoacidose diabética não apresentam algum distúrbio associado à cetoacidose diabética. Os distúrbios associados à cetoacidose diabética faz com que ocorra o aumento da produção e excreção de hormônios diabetogênicos.
Geralmente a elevação da quantidade de hormônios diaetogênicos é uma resposta benéfica, mas o efeito desses distúrbios hormonais apenas agrava a deficiência insulínica devido à resistência insulínica, estimulando lipólise, que acarreta em cetogênese e gliconeogênese, que pioram a hiperglicemia.
Glucagon:
O glucagon é o hormônio que estimula a liberação de energia de células-alvo em resposta a hipoglicemia, sendo o antagonista biológico da insulina.
O glucagon estimula o catabolismo proteico da musculatura esquelética, promove a redução da síntese de proteínas e aumenta a concentração de aminoácidos circulantes para realizar a gliconeogênese.
O glucagon aumenta a glicogenólise e gliconeogênese no fígado, porém tem pouco ou nenhum efeito no tecido periférico como o músculo e gordura, por exemplo.
Cortisol:
O cortisol estimula a síntese de enzimas da gliconeogênese, mobilizando os precursores da gliconeogênese elevando assim a glicemia, além de promover a cetogênese pelo aumento da lipólise.
O cortisol estimula a glicogenólise nos músculos, causando quebra de proteína com liberação de aminoácidos que serão utilizados futuramente para gliconeogênese pelo fígado.
Há evidências de que o cortisol altera a ação da insulina em seu receptor e a resposta intracelular à insulina fica prejudicada.
Hormônio do crescimento (GH):
O hormônio do crescimento diminui o número de receptores da insulina, aumenta a afinidade do receptor de ligação e induz um defeito no pós-receptor da insulina similar àquele observado com o antagonismo à insulina induzida pelo cortisol.
Progesterona:
A progesterona é antagônica à ação da insulina e pode estimular a secreção do hormônio do crescimento, causando resistência insulínica importante.
As fêmeas que estão na fase de diestro do ciclo estral, fase conhecida como cio, apresentam aumento da secreção de progesterona e maior resistência insulínica.
Adrenalina e noradrenalina:
A adrenalina e a noradrenalina ativam o glicogênio fosforilase e glicose-6-fosfatase no fígado e aumenta a gliconeogênese no fígado e lipólise periférica, resultando em elevação da concentração sérica de glicerol, ácidos graxos não-esterificados e de cetona.
Assim como o cortisol, a adrenalina também estimula glicogenólise nos músculos, quebra de proteína com liberação de aminoácidos para a realização da gliconeogênese pelo fígado.
Produção elevada de ácidos graxos
Ácidos graxos:
Os corpos cetônicos, que são provenientes da lipólise, é convertida em triglicerídeos e glicerol no fígado ou são transformadas em cetonas. O glicerol é utilizado para a formação de glicose através da gliconeogênese.
As cetonas são moléculas osmoticamente ativas. As cetonas são o ácido acetoacético, a acetona e o ácido ß-hidroxibutírico.
Ácido acetoacético:
O ácido acetoacético corresponde à 20% das cetonas produzidas nos casos de cetoacidose diabética. O ácido acetoacético é uma substância instável que se decompõe expontaneamente em acetona e em dióxido de carbono em aproximadamente 11 a 12 horas quando está em temperatura de 25°C.
Acetona:
Dentre as cetonas, a acetona é a única que é quimicamente neutra. A acetona corresponde à 2% das cetonas produzidas nos casos de cetoacidose diabética. A acetona é uma substância instável e volátil que evapora em temperatura ambiente.
Ácido ß-hidroxibutírico:
O ácido ß-hidroxibutírico (beta-hidroxidobutirato) é a principal cetona em seres humanos, cães e gatos com cetoacidose diabética. O ácido ß-hidroxibutirato é formado através de uma molécula de ácido acetoacético e na presença de um íon de hidrogênio. O ácido ß-hidroxibutírico corresponde à 78% das cetonas produzidas nos casos de cetoacidose diabética.
Razão ácido ß-hidroxibutírico/ácido acetoacético:
Pacientest saudáveis:
A razão ácido ß-hidroxibutírico/ácido acetoacético em pacientes saudáveis é de 1:1.
Pacientes com cetoacidose diabética:
A razão ácido ß-hidroxibutírico/ácido acetoacético em pacientes em cetoacidose diabética é de 5:1 a 20:1 dependendo da gravidade da hipovolemia e da acidose metabólica.
Elevação da produção de ácidos graxos:
A produção elevada de corpos cetônicos, sendo esses originados da lipólise devido à ausência da insulina ou devido à resistência insulínica, ocorre para prevenir a “fome” celular e possivelmente sua morte.
O aumento da concentração de ácidos graxos séricos é chamado de cetonemia ou de cetose.
A insulina é um potente inibidor da lipólise e da oxidação dos ácidos graxos livres. Como o paciente com cetoacidose diabética promove lipólise em maior quantidade, haverá um maior número de ácidos graxos livres na circulação. Esses ácidos graxos livres vão para o fígado que promoverá a cetogênese. Apesar de alguns órgãos utilizarem os corpos cetônicos como o miocárdio, músculo esquelético e cérebro, por exemplo, os ácidos graxos remanescentes devem ser eliminados pelos rins.
A deficiência insulínica, a resistência insulínica e a concentraçáo sérica elevada de hormônios diabetogênicos atuam em conjunto e estimulam a cetogênese.
Acidose metabólica
Produção de íons de hidrogênio e cetoânios:
A oxidação dos corpos cetônicos liberam ácido carboxílico e íons de hidrogênio (H+). O excesso da produção de corpos cetônicos aumenta a produção de íons de hidrogênio e os íons de hidrogênio diminuem o pH sanguíneo.
O ácido acetoacético e o ácido ß-hidroxibutírico, que são substâncias ácidas, se dissociam completamente, resultando na produção de íons hidrogênio e cetoânions.
Consumo de bicarbonato:
Os corpos cetônicos são ânions, ou seja, possuem carga negativa.
Toda vez que o corpo cetônico se dissocia em íon de hidrogênio, haverá o consumo de bicarbonato, que faz parte do sistema tampão.
Sobrecarga do sistema tampão:
Quando a quantidade de íons de hidrogênio criada excede a capacidade do sistema tampão de se ligar ao íon de hidrogênio, ocorre a acidose metabólica.
O excesso de cetona sérica pode sobrecarregar a capacidade do sistema tampão do organismo do paciente, causando aumento na concentração de íon hidrogênio arterial e diminuição no bicarbonato sérico, progressivamente piorando a acidose metabólica.
O sistema tampão do organismo ficará sobrecarregado devido à cetogênese, há a diminuição do pH sanguíneo ocasionando, de forma progressiva, à acidose metabólica. A desidratação e a insuficiência renal intrínseca podem alterar a concentração sérica de ânions orgânicos, o que resulta em acidose metabólica.
Excreção de corpos cetônicos pelos rins:
Para serem excretados pelos rins, os corpos cetônicos se ligam ao sódio encontrado no meio extracelular.
Os íons de hidrogênio são, então, usados pelo organismo para substituir os íons de sódio no meio extracelular, diminuindo ainda mais o pH sanguíneo.
Acidose lática:
A acidose lática é comumente identificada em cães e gatos que tem cetoacidose diabética e Diabetes mellitus hiperosmolar sem cetoacidose, e pode contribuir substancialmente na acidose.
Diurese osmótica
Hiperglicemia ultrapassa o limiar de reabsorção renal de glicose:
Quando a hiperglicemia ultrapassar o limiar de reabsorção renal de glicose, haverá a diurese osmótica. A diurese osmótica ocasionada pela hiperglicemia somente ocorrerá caso a o valor da glicemia ultrapassar o limiar de reabsorção renal.
O valor a hiperglicemia que ultrapassa o limiar de reabsorção renal de glicose é:
Cães:
O limiar de reabsorção renal de glicose dos cães é de 180 a 220 mg/dL.
Gatos:
O limiar de reabsorção renal de glicose dos gatos é de 200 a 320 mg/dL.
Cetonemia:
As cetonas acumulam-se no espaço extracelular, eventualmente ultrapassam o limiar tubular renal para a reabsorção completa e ocorre a eliminação pela urina, contribuindo também para diurese osmótica. A eliminação de cetonas na urina é chamada de cetonúria.
Os túbulos renais são facilmente sobrecarregados quando as cetonas são sintetizadas em excesso pelo fígado.
Diminuição da acidificação da urina:
Quando há sobrecarga nos túbulos renais, a capacidade renal de acidificar a urina fica prejudicada.
Mesmo com o pH urinário mais baixo, as cetonas são excretadas normalmente como sódio e potássio, resultando em perda concomitante de magnésio e bicarbonato.
Excreção eletrolítica:
A diurese osmótica também faz com que o paciente elimine pela urina potássio, sódio, cloro, fósforo e magnésio.
Alteração renal
Desidratação:
A desidratação ocasionada por alterações gastrointestinais como anorexia e vômito, por exemplo, e pela diurese osmótica, e a perda excessiva de eletrólitos nos pacientes com cetoacidose diabética ocasiona em azotemia pré-renal e declínio na taxa de filtragem glomerular renal, que promove em maior acúmulo de glicose e cetona no sangue.
Elevação da osmolalidade sanguínea
O alto nível de glicose sanguínea aumenta a osmolalidade, que é a expressão da pressão osmótica de uma solução baseada no número relativo de partículas de soluto em 1 quilograma de solução, do sangue. Os compostos que determinam a osmolalidade sanguínea são o sódio, potássio, glicose e uréia.
Com a constante micção devido à diurese osmótica, o paciente com cetoacidose diabética perderá muito soluto, agravando a osmolalidade sanguínea.
A osmolalidade elevada no sangue desviará a água do meio intracelular para o meio extracelular ocasionando em desidratação celular.
Consequências metabólicas graves
As consequências metabólicas graves da cetoacidose diabética com potencial risco de óbito são hiperosmolalidade, tromboembolismo, acidemia e acidose metabólica grave, insuficiência renal, diurese osmótica obrigatória, e/ou desequilíbrio hidroeletrolítico.
Sintomatologia clínica
Sintomas sistêmicos
Polidipsia.
Desidratação:
Caso o paciente com cetoacidose diabética estiver em quadro de desidratação importante ou de choque hipovolêmico, o paciente pode apresentar:
- Mucosas congestas ou hipocoradas.
- Hipotermia.
- Elevação no tempo de preenchimento capilar (TPC).
- Hipotensão arterial sistêmica.
- Bradicardia.
- Reflexo pupilar fotomotor alterado.
Perda de peso:
Apesar do paciente com cetoacidose diabética estar perdendo peso, o paciente pode se apresentar com peso dentro da normalidade, estar sobrepeso ou estar abaixo do peso, por exemplo.
Atrofia muscular.
Sintomas associados ao nível de consciência
Apatia.
Letargia.
Depressão.
Estupor.
Coma:
Os pacientes com cetoacidose diabética que desenvolvem hiperosmolalidade grave geralmente estão letárgicos e podem ficar comatosos.
Sintomas gastrointestinais
Anorexia, náusea e vômito:
Os corpos cetônicos em excesso no sangue e a hiperglicemia estimularão quimioreceptores localizados na medula oblonga causando náusea, anorexia e vômito.
Os animais com cetoacidose diabética podem, inclusive, apresentar hematêmese.
Diarreia:
A diarreia dos pacientes com cetoacidose pode apresentar sangue e/ou muco.
Dor e distensão abdominal:
Importante avaliar se o quadro de anorexia, vômito e dor abdominal pode ser devido à pancreatite e/ou peritonite, por exemplo.
Sintomas do trato urinário
Poliúria.
Oligúria ou anúria.
Sintomas respiratórios
Hálito cetônico:
Os animais com cetoacidose diabética podem apresentar um odor forte de acetona durante a expiração.
Respiração de Kussmaul:
A respiração de Kussmaul é caracterizada por ser uma respiração lenta e profunda, que pode ser erroneamente interpretado como desconforto respiratório.
Taquipneia.
Diagnóstico
Introdução
O diagnóstico da cetonemia diabética e da cetoacidose diabética é baseada na presença de hiperglicemia, glicosúria, cetonúria, cetonemia com ou sem acidose metabólica.
Anamnese
Questionar sobre sintomas anteriores:
Quando um paciente com cetoacidose diabética muito debilitado é levado ao médico veterinário, o responsável às vezes não relata os sintomas clássicos da diabetes mellitus que são poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso. O médico veterinário deve fazer uma anamnese completa e cuidadosa do paciente para obter informações sobre os sinais clínicos clássicos da diabetes mellitus.
Questionar sobre todos os sistemas corpóreos:
Deve-se fazer a anamnese cuidadosa de todos os sistemas, pois é importante descartar a possibilidade de doença concomitante e há doenças que apresentam sintomas clínicos semelhantes ao da cetoacidose diabética como a piometra, hiperadrenocorticismo e insuficiência renal, por exemplo.
Em cães e gatos com cetoacidose diabética, é comum a ocorrência de pancreatite, hiperadrenocorticisimo, fase do diestro do ciclo mestrual, piometra, prostatite, insuficiência cardíaca e pneumonia bacteriana, por exemplo. Um tratamento efetivo da cetoacidose diabética requer o tratamento dessas desordens concomitantes.
Exame físico
Introdução:
Os achados do exame físico do paciente com cetoacidose diabética dependem do nível e severidade da cetoacidose diabética e da origem de qualquer doença concomitante.
Avaliar distúrbio concomitante:
Deve-se realizar exame físico minucioso devido aos comuns distúrbios concomitantes que não podem ser subestimadas como a pancreatite, infecções do trato urinário, outra endocrinopatia, dermatopatia e/ou insuficiência cardíaca congestiva, por exemplo.
Escore corporal:
Sobrepeso:
Muito comum os pacientes com cetoacidose diabética estarem com o escore corporal acima do normal, ou seja, estarem com sobrepeso.
Escore corporal normal.
Abaixo do peso.
Palpação de fígado:
Muitas vezes é possível realizar a palpação do fígado nos pacientes com cetoacidose diabética, pois essa afecção ocasiona em hepatomegalia devido à lipidose hepática.
A hepatomegalia também ocasiona em distensão abdominal.
(Imagem ilustrando paciente com distensão abdominal devido à hepatomegalia. Fonte: própria)
Olfação do hálito cetônico.
Avaliar nível de consciência.
Avaliar grau de desidratação:
Geralmente o paciente com cetoacidose diabética apresenta desidratação importante devido à anorexia, vômito, diurese osmótica e diarreia.
Entretanto, alguns pacientes com cetoacidose diabética podem apresentar hidratação adequada no momento do diagnóstico.
Exame de sangue
Urinálise (urina 1)
Dificuldade em obter amostra
Desidratação:
A obtenção de uma amostra de urina pode ser complicada em casos emergenciais, pois normalmente os pacientes com cetoacidose diabética podem estar com desidratação importante quando chegam ao atendimento médico veterinário.
Obesidade.
Pacientes não colaborativos.
Urocultura (cultura urinária)
Exames de imagem
Radiografia torácica e abdominal
Indicação:
Realizamos a radiografia torácica e/ou a radiografia abdominal caso houver suspeita de alguma afecção concomitante à cetoacidose diabética como a pneumonia, por exemplo.
Alterações visualizadas:
Hepatomegalia:
A alteração mais comum na radiografia abdominal do paciente com cetoacidose diabética é a hepatomegalia, que é o aumento do fígado.
Ultrassonografia abdominal
Indicação:
Assim como na radiografia, pode-se confirmar doenças concomitantes como a piometra e pancreatite, por exemplo, através da ultrassonografia abdominal.
Avaliação pancreática:
Alterações visualizadas:
- Pancreatomegalia: o paciente em cetoacidose diabética pode apresentar pancreatomegalia, que é o aumento do pâncreas, nos casos de pancreatite concomitante.
- Pâncreas irregular.
- Pâncreas hipoecóico: o pâncreas pode estar hipoecóico quando houver edema e/ou inflamação.
- Pâncreas hiperecóico: o pâncreas pode estar hiperecóico quando houver fibrose.
- Órgãos peripancreáticos hipoecóicos: os órgãos peripancreáticos podem estar hipoecóicos devido ao edema.
- Mesentério ao redor do pâncreas hiperecogênico.
- Líquido livre próximo ao pâncreas.
Desvantagem:
- Sensibilidade diagnóstica:
- Pancreatite aguda: a ultrassonografia abdominal somente apresenta sensibilidade de 65 a 70% para o diagnóstico de pancreatite aguda nos cães e gatos.
- Pancreatite crônica: a ultrassonografia abdominal apresenta sensibilidade diagnóstica limitada nos casos de pancreatite crônica, principalmente quando as alterações de ecogenididade de pâncreas são modestas e não há alterações nas estruturas peripancreáticas.
Adrenolomegalia:
Definição:
A adrenomegalia é o aumento de uma ou de ambas as adrenais.
Aumento bilateral das adrenais:
- Hiperadrenocorticismo: o aumento bilateral das adrenais pode indicar hiperadrenocorticismo.
- Inflamação crônica: o aumento bilateral das adrenais pode indicar processo inflamatório crônico não relacionado às adrenais em si.
Hepatomegalia:
A alteração mais comum na ultrassonografia abdominal do paciente com cetoacidose diabética é a hepatomegalia com hiperecogenicidade do fígado.
Eletrocardiograma
Indicação:
O eletrocardiograma não é útil somente quando há insuficiência cardíaca, mas também indica ao médico veterinário se o paciente pode apresentar anormalidades eletrolíticas ou se as anormalidades eletrolíticas estão se desenvolvendo.
Hipocalemia:
Introdução:
A primeira preocupação antes e durante do tratamento da cetoacidose diabética é a hipocalemia sendo que a hipocalemia ocasiona em alterações ao eletrocardiograma.
Alterações visualizadas:
Ao eletrocardiograma de um paciente com hipocalemia podemos observar:
- Prolongamento do intervalo Q-T.
- Progressivo declínio do segmento S-T.
- Diminuição da amplitude da onda T.
- Presença de onda de repolarização ocorrendo após a onda T.
- Duração e amplitude do segmento QRS aumentadas: na hipocalemia grave, a duração e amplitude do complexo QRS aparecem aumentadas.
- Amplitude e duração da onda P aumentadas.
- Intervalo P-R um pouco mais prolongado.
Arritmias:
- Contração ventricular prematura.
- Contração atrial prematura.
Hipercalemia:
Alterações visualizadas:
- Diminuição da amplitude da onda P.
- Intervalos P-R e QRS prolongados.
- Depressão do segmento S-T.
- Onda T com amplitude aumentada e pontiaguda.
Arritmias:
-Bradicardia.
- Paradas atriais.
- Fibrilação ventricular.
- Assistolia.
Exames do humor aquoso e corpo vítreo
Tratamento
Introdução
Hospitalização do paciente:
A cetoacidose diabética é uma emergência endócrina com potencial risco em ocasionar o óbito do paciente e o seu tratamento envolve hospitalização do paciente para tratamento intensivo com monitoramento clínico e laboratorial contínuo.
Para incentivar o tratamento adequado dos gatos com cetoacidose diabética, os médicos veterinários e os responsáveis devem saber que gatos podem ter remissão parcial ou completa da diabetes mellitus após o tratamento da cetoacidose diabética.
Manter 2 acessos venosos:
Caso o médico veterinário esteja considerando realizar o tratamento com infusão contínua de insulina de curta ação via intravenosa, o tratamento pode ter melhor resultado com a colocação de dois cateteres periféricos, sendo um para a infusão de insulina de curta ação e outro acesso para administração de fluidoterapia e medicamentos.
Objetivos do tratamento
Reestabelecer volume intravascular.
Corrigir alterações hidroeletrolítica.
Corrigir distúrbios acidobásico.
Diminuir a concentração glicêmica.
Tratar qualquer doença concomitante.
Alimentação
O paciente com cetoacidose diabética deve voltar a se alimentar o mais rapidamente possível, principalmente os gatos que podem desenvolver complicações importantes devido à anorexia prolongada.
Recomenda-se alimentação com baixa concentração de carboidratos, mas pode-se oferecer qualquer alimento para o paciente com cetoacidose diabética para estimular a ingestão alimentar.
Pode-se realizar a alimentação forçada no paciente, mas esse procedimento pode ocasionar em aversão alimentar.
Fluidoterapia
Insulinoterapia
Suplementação de potássio
Suplementação de fósforo
Suplementação de magnésio
Suplementação de bicarbonato de sódio?
Tratamento dos distúrbios gastrointestinais
Tratamento das afecções concomitantes
Complicações do tratamento
Monitoramento do tratamento
Monitorar peso corpóreo
Importante monitorar o peso corpóreo do paciente com cetoacidose diabética que está em tratamento a cada 12 a 24 horas, pois o monitoramento do peso corpóreo é muito útil para determinar se o paciente está recebendo a adequada rehidratação.
Realizar exame físico frequentemente
Importante monitorar a pressão arterial sistêmica, o grau de hidratação, tempo de preenchimento capilar, temperatura retal, frequência cardíaca e frequência respiratória do paciente com cetoacidose diabética que está em tratamento.
Monitoramento da glicemia e ajustes na insulinoterapia
Monitoramento dos corpos cetônicos
Monitoramento e ajustes na suplementação de potássio
Monitoramento do fósforo sérico
Monitoramento do estado ácido-básico
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Atualizado em: 09/03/2024